quinta-feira, 6 de agosto de 2009

She had a bad day

Desde que os Ipods, MP3, 4, 5 e derivados se disseminaram, minha distração nos ônibus diminuiu bastante. É um individualismo que impressiona. Moro no ponto final de dois ônibus, por isso costumo embarcar neles vazios. Um dia desses estava reparando nas pessoas que entravam (só pra variar) e notei que dos quinze passageiros, contando comigo, quatorze estavam com fones de ouvido, a exceção era uma senhora, com mais de 65, na parte da frente. O trocador também portava seu radinho.

Por um tempo não tive conversas ou comportamentos para observar nos meus trajetos. Foi então que em uma dessas “viagens” entrei no 8101, ali na São Paulo com Álvares Cabral, mais ou menos. Eis que minutos depois entra mais uma pessoa: uma jovem com 3 cadernos nas mãos, uma mochila gigante à tira colo e, é claro, os famosos fones de ouvido. Ela se sentou naqueles bancos laterais que ficam no espaço para cadeirantes e ficou bem na minha frente.

Sou muito
reparadeira das coisas, mas raramente presto atenção em um rosto. Notei o dela. Seu olho estava borrado de lápis e rímel, aparência de quem chorou por horas. Tinha um olhar vago. De repente ela começou a chorar de novo. Primeiro umas, duas lágrimas secas, depois um rio. Aí vieram os soluços e mais pessoas no ônibus começaram a reparar. Daí os comentários: - “Ih, Brigou com o namorado”; “Alguém da família morreu”; “Deve ter ido mal na prova”... Cochichos e mais cochichos.

Dessa vez eu mudei de foco. Não me interessava o motivo do choro, como provavelmente não iria descobrir, ficaria frustrada. Comecei a observar o
Ipod. O que importava agora era a trilha que embalava o chororó. Quase me debruçava na tentativa de ler a telinha do aparelho, fazia isso à toa já que estava apagada. Comecei a fazer barulho, na minha cabeça se ela tivesse que aumentar o volume eu conseguiria ouvir, então peguei o celular e falava aos berros com a suposta pessoa do outro lado. Não adiantou. O ônibus freou e esbarrei nela pra ver se fazia algum movimento. Não adiantou. Tentei fazer o máximo de silêncio e chegar o ouvido o mais perto possível do fone dela, mas o volume estava bem baixo. Não adiantou. Foram várias manobras na tentativa de acender a tela, mas nenhuma funcionava...

O meu ponto já estava chegando. O ônibus tinha saído da Curitiba e entrado no Viaduto da Lagoinha. Não sei se vocês são assim, mas minha curiosidade é tanta que quando não consigo descobrir algo que quero, tenho insônia, perco a fome, fico de mau humor... Já estava quase cutucando a
fulana e perguntando o nome da música. Não precisou. Ela ia descer no mesmo ponto que eu e apertou o stop, a telinha acendeu. Eu, fazendo contorcionismo e apertando bem os olhos, consegui enfim ler: Bad Day - Daniel Powter. Sugestivo, não?

2 comentários:

  1. se fosse o ipod micro, sem telinha, você tava ferrada, rs.
    é todo dia que você anda de ônibus, né?
    pode atualizar diariamente então, vou te colocar nos meus favoritos!

    ResponderExcluir
  2. Doidaaaa!!! ahahahah
    Gostei desse;) Fez sentido.
    BeijOOs

    ResponderExcluir