terça-feira, 11 de agosto de 2009

Leitura em Dupla

Eu não funciono muito bem até as 9h30 da manhã. Na minha opinião, a vida deveria começar depois dessa hora. Como voltei a estudar de manhã isso é um pouco impossível, por isso uso todo tempo que tenho antes de chegar à faculdade para cochilar. Procuro sentar sempre no banco da janela do ônibus, pra encostar e dar aquela dormidinha básica, afinal de contas, de manhã as pessoas são menos sociáveis e não tenho tantos assuntos para observar em meu trajeto.

Hoje o 8101 estava um pouco cheio. Na saída da Prudente de Moraes, só tinha sobrado um lugar vago e era bem ao meu lado. Entrou um homem, na casa dos 35 anos, imagino. Ele estava com jornais embaixo do braço e logo que se sentou foi abrindo:
Jornal Aqui e Super Notícias.

Como estudante de jornalismo, me interesso muito pelo jeito como as pessoas costumam ler as notícias. O homem pegou as duas capas, cada uma em uma mão, e começou a compará-las, como quem diz “qual eu leio primeiro?”. O
Super trazia as manchetes: “BH tem um carro roubado a cada 1,5 hora” e “Confirmadas 3 mortes por Gripe Suína em MG”. Já o Aqui destacava: “Gripe mata em Minas”. No primeiro estava a Tânia Khalill de biquíni, no outro a Paola Oliveira, vestida, com cara de “tô querosa”. Sem deixar de lado minha opinião editorial sobre ambos os jornais, fiquei curiosa para saber qual seria mais atrativa. Não a moça da capa, mas a manchete, claro.

O homem abriu primeiro o
Super. Sequer leu a página dois (que fica atrás da capa), e já foi dobrando na 3. Os títulos das editorias já me pareceram bem sugestivos: Assédio Sexual, Apreensão, Drogas. Tinha uma notícia em destaque falando sobre a mulher que foi ao ginecologista e o médico fez comentários que estavam fora da conduta ética, outra sobre a maconha que foi encontrada no interior e uma última falava da prisão de um foragido. Nas páginas seguintes notícias sobre morte, violência, roubos e esportes.

Quem sou eu para criticar, tem gente que gosta de sangue assim, no café da manhã. Eu já penso que ele me desce melhor com a janta, aí o dia já esta no fim e o pensamento de “o mundo não tem mais jeito”, dura só até a hora de dormir, quando assuntos mais banais, que correspondem ao meu próprio umbigo, começam a rondar minha cabeça. Não sei se o homem percebeu minha cara de aterrorizada, ou meu olho
bicando a leitura dele incomodou, mas assim que alguém saiu ele pulou pro banco da frente e acabou-se minha distração.

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