terça-feira, 29 de setembro de 2009

Agilidade, meu povo

Normalmente eu pego meu ônibus de volta do trabalho pra casa em frente a um banco. Ele sempre está cheio, não importa o horário. Algumas vezes está que não cabe mais ninguém, em outras vejo pequenas filas, e em raras noto que alguns caixas eletrônicos estão vazios. A questão é: sempre tem gente lá.

Fico me perguntando se realmente existe um ser nesse mundo que gosta de banco. Quer dizer, sente prazer em ir ao banco, sabe? Adora enfrentar uma fila, ter o cartão engolido por uma máquina, ouvir cinco gerúndios a cada minuto... Enfim, todas essas coisas prazerosas que podem acontecer. De vez em quando penso que nem os próprios funcionários gostariam de estar lá, dado ao bom humor com que nos atendem.

A parte boa de não ter carro é não passar raiva também na hora de estacionar quando vou ao banco. Fico vendo os veículos em fila dupla, local proibido, ponto de ônibus... O banco está ali, mas a vaga não. Aí não se tem muita saída, ou desiste de ir ou pára onde não deve.

Minha mãe me deu carona outro dia. Sempre que ela me dá carona escolhe um tópico para dissertar durante todo o trajeto. É um monólogo, ela fala, eu escuto e abano a cabeça. O desse dia foi sobre banco. Ela me pediu para depositar um cheque no dia anterior, mas eu e minha cabeça de vento esquecemos. Eis que no dia seguinte ela começa:

- Banco devia ter aqueles negócios... como é mesmo o nome?... Drive-thru. Aí a pessoa não precisava ficar procurando vaga. Era só entrar na fila do seu caixa, esperar sua vez e pronto, acabou.

Realmente. Seria tão mais prático. Será que ninguém, até hoje, pensou nisso? A pessoa chega lá com seu carrinho, vai até o caixa eletrônico e pode colocar a primeira para partir. Estamos numa época em que tudo é tão imediato que não entendo como ainda não existe drive-thru em banco.

Com essa mágica invenção as filas duplas seriam evitadas, assim como o desgaste das buzinas, as intermináveis horas em pé... Perfeito! E melhor, duas figuras bem comuns nas filas dos bancos seriam evitadas: as grávidas e os maiores de 65 anos.

Eu fico emputecida com essas duas categorias. Acho que eles e eu pensamos da mesma maneira porque não contei até hoje uma única vez que fui a um banco e não encontrei as figuras. Era assim: eu estava lá há uma hora e meia e quando iria ser atendida vinha o cliente especial. O pior é que eles normalmente trazem as contas de toda família para pagar porque, mais uma vez eu digo: ninguém deve gostar de banco.

Mais meia hora de espera e chega minha vez - Ah não, pegadinha de novo. Chegam três grávidas, tagarelando feito doidas e sem o menor constrangimento embicam na minha frente. E depois ainda enchem o peito para dizer em alto e bom tom que “gravidez não é doença”. Poxa, então enfrenta a fila como todo mundo, dona! Daqui a pouco vão ter que criar os “bancos preferenciais”, porque os “caixas especiais” não tão dando conta do recado não.

De carro tudo ficaria tão mais rápido. Não pra mim, claro. Sou uma pobre metida a escritora que sente até um pouco de prazer em andar de ônibus. Mas se 75% dos clientes do meu banco têm carro (e isso é comprovado por pesquisa), eu teria que enfrentar apenas 25% da fila atual. E olha que eu nem sou boa em matemática.

Acho que vou patentear essa idéia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ensaio sobre a minissaia

Existem roupas que simplesmente não foram feitas para se usar no ônibus. É o caso das saias. Já viram o comportamento das moças usando esse trajes dentro dos coletivos? São dificuldades inimagináveis, tão inimagináveis que ainda há quem se aventure em usá-las.

Neste calor infernal belo-horizontino as moças realmente devem ficar tentadas a usar a peça. Aconteceu um dia desses quando eu voltava do trabalho. Vi umas cinco meninas de saia. Os tamanhos variavam e, neste caso, quanto menor, maiores são as dificuldades. A saia longa é mais tranquila, o máximo que pode – e vai – acontecer é sujar toda a barra. Um nojo. Mas tem gente que não liga pra isso, então vai saber...

Se a saia fica na altura do joelho, como as antigas secretárias usavam, morro de dó. O movimento das pernas fica tão limitado como se tivessem amarrado um barbante nelas. Não conseguimos dar um passo maior do que o de uma criança de dois anos. Se tivermos que correr para alcançar o ônibus quando ele já está saindo do ponto, podemos desistir. Além disso, é preciso muita destreza para subir aqueles degraus altos, há quase um metro do chão.

Agora, minhas amigas, - e aqui fica um conselho de irmã – não se aventurem com a minissaia (ou mini-saia, como preferirem). Quando Mary Quant resolveu cortar uma saia ao meio, com certeza não pensou na mulher suficientemente moderna que anda de ônibus. E certamente ela nunca pegou um bondinho vestindo sua criação.

Assim como dois corpos não ocupam o mesmo lugar, já foi provado cientificamente que subir no ônibus sem mostrar nenhuma parte íntima trajando a minissaia é humanamente impossível. Isso se ela permitir que você levante a perna para subir sem virar apenas um cinto. Mas como eu sei que toda mulher tem um pouco de maravilha e elástica juntas, não duvido que algumas até consigam embarcar. Mas se engana quem pensa que acabam aí os problemas. Não. Eles estão só começando.

Se você está em dia com a academia, com tudo no lugar e lembrou-se de depilar as pernas, fique tranqüila, tem menos um problema para enfrentar. As mulheres talvez te olhem bastante e comentem que você tem uma estria ou celulite (quem sabe as duas), mas não se deixe abalar, é tudo inveja. Os homens que vão te dar um pouco mais de trabalho, não na questão de reparar o que está ou não fora do lugar, claro.

É fato, porque Murphy é implacável, que vai entrar aquele pré-adolescente atiçado que se sentará ao seu lado e sem-querer-querendo esbarrará a mão em suas pernas no mínimo dez vezes a cada quarteirão. Mas você sempre tem a opção de mudar de lugar. Desde que não esteja sentada na janela e precise passar por cima do rapazinho, porque acredite, ele não vai se levantar para você passar.

Se não é o pré-adolescente tem o vovô tarado. Ele vai soltar um “oh lá em casa”, mas você pode fingir que não entendeu e passar da roleta como se nada tivesse acontecido. Porém não se esqueça do trocador, outra figura que vai te importunar. E não adianta, ele pode estar com uma aliança dourada do tamanho da sem-vergonhice dele, que vai soltar um “que saúde” – na melhor das hipóteses.

Passando desses primeiros obstáculos você já está com meio caminho andado – Literalmente, porque nessa altura a condução já terá andado metade do trajeto. Na verdade você deve torcer pro pré-adolescente se assentar ao seu lado, meninos assim têm menos malícia e se você olhar com cara feia pode até ser que se mude de lugar. O problema é se o irmão mais velho ou mesmo o pai desse menino resolver se instalar bem do seu ladinho. Eles vão fingir que não estão nem aí, mas no fundo vão reparar em cada parte de pele à mostra. E não, isso não é confortável.

Pois bem, estou falando da boa possibilidade de se conseguir um assento. Mas como isso hoje em dia é bem raro, já digo: ficar de pé com a minissaia é um desastre. Se forem aquelas mini mini mesmo, nem tente segurar nas barras, só se forem aquelas verticais, que você não precisa levantar o braço para alcançar. Caso contrário, pagarás calcinha, a física quântica comprova.

Resumindo, após dez minutos você já terá se arrependido de ter colocado aquela micro-peça. Provavelmente vai querer saltar do ônibus, talvez até mesmo antes do seu ponto. Aí vem outro empecilho: a descida.

Você vai se aproximar da porta e ficar analisando as possíveis estratégias para conseguir descer sem que todos que passam pela rua e os passageiros do ônibus assistam seu showzinho. Vamos lá: de lado... não dá; de frente... nem pensar; virar de costas... bom, isso eu nunca tentei nem vi tentarem.

Enfim, minha dica é: respire fundo, conte até cinco – porque se for até dez você desiste – e vá, não importa o jeito. Você vai passar por um constrangimento. Mas você é uma lady, onde já se viu ficar vermelha? Não, não. Empine o nariz – se é que me entendem – e mostre que você é uma mulher bem resolvida e sabe ter jogo de cintura – literalmente – para lidar com situações embaraçosas.

Internamente, acredite em mim, você estará se dizendo repetidas vezes: “eu nunca mais uso essa roupa, nunca mais!”, e articulando mil maneias de jogá-la fora, ou dar para aquela inimiga do coração. Mas não se preocupe, no próximo verão você já terá esquecido a promessa e colocará a minissaia para pegar o ônibus, tranquilamente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Essa eu escrevi no ônibus

Redigi essa carta enquanto esperava o meu ônibus na Rua da Bahia e durante o trajeto que me trouxe até em casa:



Aos fabricantes do meu shampoo,

Venho por meio desta expressar a minha indignação – indignação só não, revolta mesmo – diante do fato que hoje descobri. Meu frasco de shampoo estava no fim, por isso fui à farmácia de costume em busca de um novo pote. Faz cinco anos – ou mais – que uso essa mesma marca, essa mesma fragrância, meu cabelo já se acostumou com os componentes. Aí quando vou ao local habitual procurar pelo meu shampoo, cadê? Não, ele não estava lá. Passei uns quinze minutos rodando na drogaria até que uma atendente bondosa me cutucou e disse um sonoro “Posso ajudar?”. Claro! Respondi na hora. “Onde eu acho o meu shampoo peloamordedeus?”.

Ela, com um ar de deboche, disse “bem aqui, como sempre”. Eu olhei mas não vi e novamente perguntei aonde estava. Foi então que ela pegou e me entregou. Tentei explicar que não era aquele o meu shampoo, mas foi em vão. Fui até o balcão e exigi que chamassem o gerente. Perguntei que palhaçada era aquela. Como eles tinham a coragem de vender uma imitação barata daquele shampoo assim?

Fiz um discurso homérico que começava com “é por isso que o Brasil não vai pra frente” e terminava com “e o Sarney continua lá”. Depois de me deixar falar igual pobre na chuva o gentil gerente me disse “minha cara, eles trocaram a embalagem e modificaram algumas fórmulas”.

Como os senhores puderam fazer isso comigo? Uma cliente fiel há tanto tempo. Sempre indiquei esse shampoo, elogiava onde quer que fosse. Quando tinha cabelos longos chegava a comprar dois potes por mês (é, ele rendia muito). E agora o que será de mim? O que será do meu cabelo? Ele era feliz com aquela fórmula.

Os senhores têm idéia de quanto tempo levei para encontrar um shampoo que se adaptasse ao meu cabelo rebelde? Como puderam assim, sem mais nem menos, sem um aviso prévio nem nada mudar de camomila+própolis natural para camomila+macadâmia. Quem disse que eu queria essa troca? Quem foi o químico petulante que afirmou que macadâmia é melhor que própolis natural para o cabelo?

Estou indignada. Os senhores deveriam ter informado aos seus usuários sobre a mudança. Eu iria às ruas protestar. Faria um abaixo assinado, uma movimentação – igual a que teve hoje na Antônio Carlos e atrasou meu dia em duas horas. E mesmo assim, se nada adiantasse, eu iria gastar todo o meu salário suado na compra dos antigos exemplares. Onde esse mundo vai parar? Nessa sociedade moderna os fabricantes sequer se preocupam com a satizfação do cliente. E aquela história de que sempre temos razão é pura balela.

Há três anos, mais ou menos, aconteceu a mesma coisa com o perfume que eu usava. Ele foi banido do mercado sem mais nem menos. Até hoje eu sofro uma crise de identidade olfativa e não consegui encontrar nenhuma nova fragrância que se adequasse às minhas vontades. Entrei no juizado de pequenas causas – o PROCON recusou - contra os fabricantes do perfume. O processo tramita até hoje e estou em vias de receber uma gorda indenização. E se quiserem encarar essa carta revoltada como uma ameaça, tudo bem. Já acionei meu advogado.

A questão é: quero propor um acordo. Nada de mau lhes acontecerá se decidirem, por livre e espontânea vontade, voltarem com a antiga fórmula . Não é preciso fazer isso com todos os produtos, me contendo apenas com o meu Camomila com Própolis Natural.

Como apelo final gostaria que os senhores pensassem em quantas outras pessoas podem estar sofrendo neste momento com o mesmo problema. Não pensem no sentido de terem dó ou sentirem pena dessas pessoas, mas imaginem o escândalo que seria se essas novas fórmulas, sem mais nem menos, começassem a causar alergias em seus usuários...

Aguardo um posicionamento,

Atenciosamente,

Teani Freitas.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Deixe que digam, que pensem, que falem...


Preciso confessar: eu gosto de Paulo Coelho. Sim. Eu gosto do Bruxo. Não entendo por que as pessoas, em geral, tem essa mania de criticá-lo. Pare e pense: quantas pessoas você conhece que gostam de Paulo Coelho? E quantas delas já leram Paulo Coelho?

Minha amiga Juju ganhou no Natal, em uma dessas promoções de shopping, um livro do Paulo. Chama-se “O Livro dos Manuais”. Eu era a única pessoa, dentre tantas que ela conhece, que lia o autor, logo fui presenteada.

Outro dia, enquanto fazia meu velho e habitual trajeto casa-faculdade, percebi que as pessoas do ônibus olhavam em minha direção fazendo gestos de negação e se afastando. Comecei a pensar que tinha algo de errado com minha roupa, ou com meu cabelo... seria o sapato? Não, nada disso... quando sentei percebi que os olhares maldosos iam pro tal livro que estava dentro da minha pasta transparente.

Não consigo entender de onde vem esse preconceito. Já li vários livros do Paulo Coelho e não encontro motivos para as tais críticas. Considero que é uma literatura paradoxal, quer dizer, ela pode ser fácil, mas se você mergulha no livro e entende o motivo que o levou a escrever, a coisas se tornam bem mais complexas.

Uma vez minha mãe me disse que quando tinha minha idade não podia ler Jorge Amado. As moças que o faziam ficavam mal vistas. Ela me contou que o escritor baiano falava muito diretamente, um desbocado para época. Mas comassim o Jorge Amado já foi vítima desses olhares suspeitosos?

Claro, são motivos bem diferentes. Consideram o pobre Paulo um alienado, alucinado, distanciado de Deus. A questão é, virei fã dele quando ganhei meu primeiro livro de entrevistas, “Palavra cruzada”, do Júlio Maria, que escreve a coluna homônima para o Jornal da Tarde, todas as segundas. Uma das respostas de Coelho dizia o seguinte: “O meu texto é vivo e transgressor. Que diferença faz pro mundo uma vírgula separando o sujeito do verbo?”

Pois sim. Que diferença faz pro mundo a vírgula lá no meio? Alguém se sente mais infeliz por isso? Que se manifeste quem já foi injustiçado por isso! Desconheço. É tudo pura convenção. Que me perdoem meus amados professores de redação jornalística, sei muito bem do quão incorreto é uma sentença assim. Mas poxa, se Guimarães Rosa inventa e desinventa palavras, que mal há na virgulasinha do Paulo ali, dando bobeira?

Vamos deixar de pieguice e aceitar que Paulo Coelho escreve muito bem sim senhores. Ele é um escritor comerciante, e que mal há em querer vender livros? Que mal há em se escrever fácil? Problemas devem ter aqueles que só sabem ler difícil. Para que figuras de linguagem sofisticadas, frases trabalhadas? Para que a busca por esse nível de excelência? O que me importa é a história dentro do livro, não as sentenças dentro da história.

Resolvi então fazer um teste de preconceito. Deixava o livro bem a vista onde quer que eu fosse. Coloquei em cima da mesa do meu trabalho - devo dizer aqui que a capa vermelha e bem desenha é um atrativo e tanto, o senhor Fernando Vilela é realmente fantástico -. Todas as pessoas que entravam olhavam para ele, abanavam negativamente a cabeça e saiam, sem nada dizer. Uma das minhas chefas disse que Paulo Coelho era um “charlatão”. Na faculdade não foi diferente. Mas a maioria já se acostumou com meu gosto peculiar para leitura. Em casa eu nem fiz de propósito, o livro estava ao lado do computador. Meu namorado veio aqui e demorou a aceitar que eu realmente estava lendo, depois disso fez cara de pânico toda vez que via a capa...

Bom. Posso dizer enfim que eu leio de Dostoiévski à Paulo Coelho, passando por Graciliano Ramos e August Cury. Que mal há nisso? Nenhum. Sei apreciar a escrita de cada um, seja ela fácil ou difícil, errada ou certa. Não estou aqui para julgar, gosto boas leituras – e isso é uma opinião subjetiva. Não, eu não vou cair no clichê e dizer: Paulo Coelho é um impostor da língua portuguesa.

Se entreguem àquele que já vendeu mais de 65 milhões de livros e abram mão desses conceitos prévios que implantam em suas cabeças.