segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Socialização

Era dezembro de 2008. 5102 vazio ali no primeiro ponto da Catalão depois do Cemitério da Paz, um verdadeiro milagre. Tenho síndrome de baixinha, adoro os bancos mais altos do ônibus, sempre que entro e estão vazios sento-me neles. Nesse dia não foi diferente.

Gebrim trabalhava comigo na época e também é meu vizinho, ou seja, companhia de viagem. Estávamos num papo animado, falando desde cenouras até música clássica, e foi enquanto falávamos sobre música e trocávamos fones de ouvido que o rapazinho do banco ao nosso lado começou:

- Rapazinho: Pô cara, olha meu celular. É igual o seu né?
- Gebrim: Oh amigo, não é não, o seu é um modelo à frente.
- Rapazinho: O meu tem GPS, acesso a internet...
- Gebrim: O meu é mais simples.

Continuamos a conversar, Gebrim e eu, quando novamente:

- Rapazinho: Estão voltando de onde?
- Gebrim e eu: Do trabalho.
- Rapazinho: Eu tava na federal, estudo lá – disse isso tirando a carteirinha e apontando em nossa direção
- Gebrim e eu: Ah...
- Eu: Ele também – apontando pro Gebrim
- Rapazinho: Que curso?
- Gebrim: Engenharia – diz isso me lançando um olhar de “pára de render assunto”
- Rapazinho: Eu faço ciências da computação.

Nesse momento eu e Gebrim nos olhamos e dissemos mentalmente: “ta explicado!”. Voltamos ao nosso papo super interessante sobre música quando, de repente, ouvimos:

- Rapazinho: Ouve essa música aqui, muito boa!

Nessa hora eu já tentava, inutilmente, me concentrar na janela, na rua, no passeio, em qualquer coisa, pra não rir. A questão é: eu não sei rir baixo, se começasse seria um escândalo, uma vergonha pros três. O Gebrim é muito sociável, trata todo mundo bem, eu teria ignorado as mãos estendidas, mas ele jamais o faria. Pegou os fones, pôs no ouvido, esperou um minuto e devolveu, acenando com a cabeça:

- Gebrim: É, realmente boa!

Sabe aquela história de “o problema em ser sarcástico é que quando não entendem o idiota é você?”, então. Acontece que eu entendi e fui a idiota da história. Soltei a gargalhada engasgada, aquelas bem altas, de quem tava se segurando há muito tempo. Comecei a escorregar do banco de tanto rir, o Gebrim, coitado, me cutucava e falava “Teani, pelo amor de Deus, pára!”. Não adiantava. As pessoas me olhovam assustadas e eu já via a hora do Gebrim se levantar e fingir que não me conhecia. Fui assim desde o ponto do Minascentro até o último da Augusto de Lima. Eu nem acho que aquele era o lugar que o rapazinho deveria descer, mas foi um constrangimento tão grande que ele saltou sem ao menos se despedir.

Um comentário:

  1. O povo da ciências da computação é meio doido mesmo!Convivi com esse povo durante todo o tempo em que trabalhei no Uni-BH. Hahahahahaha!
    Parabéns pelo blog!!=]
    Bjos!

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