segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Escolhas

Menina entra no ônibus falando ao celular.

- Ai Cla, eu não sei. O Pedro é lindo, mas o Lucas quer coisa séria comigo. E eu não sei também se prefiro ir num bar ou num lugar mais agitado na sexta. A pior parte é não saber que roupa vou usar, tem 3 calças e dois vestidos perfeitos pra ocasião.

Pausa.

- Cla, e se eu conseguir conciliar os dois? Seria tão perfeito! Não, Cla! Não os dois meninos, mas as duas ocasiões, para me decidir. Tô muito confusa, amiga. Na verdade é melhor mesmo ir só em uma, as roupas das duas ocasiões não combinariam. É.. Usar sandália prateada de salto em bar não rola...

A menina desceu do ônibus e me deixou ilhada em meus pensamentos.

Temos tantas escolhas nessa vida. Começamos o dia já escolhendo se vamos acordar ou não, colocando na balança aquilo que ganhamos ou perdemos. Depois decidimos sobre o que comer no café da manhã: banana ou mamão? Café com leite ou toddy?

Algumas vezes eu penso que seria melhor ter apenas uma opção. É como abrir um armário lotado de roupas e dizer “não tenho o que vestir”. Claro que tem o que vestir, mas nada ali se adequa a sua escolha no dia. E se não tivéssemos escolha? Penso que é impossível, sempre teremos a opção de simplesmente negar.

Outro dia estava dizendo a minha mãe que não queria ir trabalhar e ela me disse simplesmente: “não vá”. Eu retruquei explicando que não podia por N motivos e então ela falou:

- Filha, você pode fazer tudo que você quiser, suas escolhas são livres e todas elas levam a uma conseqüência. Você pode escolher sair do seu emprego, dormir o dia todo, deixar suas contas sem pagar...

Claro que eu já sabia disso, mas nem sempre estamos preparados para enfrentar essas conseqüências. A conseqüência de perder o emprego é bem mais dolorosa do que agüentar umas horas no trabalho. Ou não? É impossível afirmar sem tentar, é impossível tentar e voltar atrás.

Então eu penso: será que estou pronta pra fazer tantas escolhas? Algumas vezes escolho sair de casa sem blusa de frio e quase congelo na rua. Em outras, prefiro prevenir e levar o casaco, não faz frio e fico o dia todo carregando aquele peso à toa. Quando saberei dizer exatamente o que fazer? E um dia eu terei a confirmação de que aquela era uma escolha certa?

Podia existir uma máquina onde pudéssemos ver o resultado das nossas escolhas no futuro. Mas, pensando bem, que graça ia ter viver? Do jeito que é, nós sempre vamos tentar escolher a melhor opção, pedir conselhos, ouvir o coração e a cabeça, e buscar o ponto de conciliação entre tudo isso.

Isso me lembra uma coisa que li este ano em um livro bem clichê: “Comer, Rezar, Amar”, da Elizabeth Gilbert. Dizia assim: “É essa a característica da vida humana - não há grupo placebo, não há nenhuma maneira de saber como qualquer um de nós teria se comportado caso qualquer uma das variáveis houvesse mudado”.

2 comentários:

  1. É aí que está a diferença do ser humano: a possibilidade de escolher. Enquanto os bichos agem por extinto, o homem pode desenvolver estratégias para programar o seu futuro.
    O problema é quando nos preocupamos com o que os outros venham a falar. Os resultados de nossas escolhas não devem ser embasados somente nos pensamentos alheios. Pedir conselhos é bom. Depender unicamente deles não.
    Ou faça como Zeca Pagodinho: "deixa a vida me levar, vida leva eu", ou enfrente e assuma as consequencias de suas escolhas com coragem.

    "Não quero o temor da defesa, nem a ilusão da certeza" (Banda Catedral)

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