sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ensaio sobre a minissaia

Existem roupas que simplesmente não foram feitas para se usar no ônibus. É o caso das saias. Já viram o comportamento das moças usando esse trajes dentro dos coletivos? São dificuldades inimagináveis, tão inimagináveis que ainda há quem se aventure em usá-las.

Neste calor infernal belo-horizontino as moças realmente devem ficar tentadas a usar a peça. Aconteceu um dia desses quando eu voltava do trabalho. Vi umas cinco meninas de saia. Os tamanhos variavam e, neste caso, quanto menor, maiores são as dificuldades. A saia longa é mais tranquila, o máximo que pode – e vai – acontecer é sujar toda a barra. Um nojo. Mas tem gente que não liga pra isso, então vai saber...

Se a saia fica na altura do joelho, como as antigas secretárias usavam, morro de dó. O movimento das pernas fica tão limitado como se tivessem amarrado um barbante nelas. Não conseguimos dar um passo maior do que o de uma criança de dois anos. Se tivermos que correr para alcançar o ônibus quando ele já está saindo do ponto, podemos desistir. Além disso, é preciso muita destreza para subir aqueles degraus altos, há quase um metro do chão.

Agora, minhas amigas, - e aqui fica um conselho de irmã – não se aventurem com a minissaia (ou mini-saia, como preferirem). Quando Mary Quant resolveu cortar uma saia ao meio, com certeza não pensou na mulher suficientemente moderna que anda de ônibus. E certamente ela nunca pegou um bondinho vestindo sua criação.

Assim como dois corpos não ocupam o mesmo lugar, já foi provado cientificamente que subir no ônibus sem mostrar nenhuma parte íntima trajando a minissaia é humanamente impossível. Isso se ela permitir que você levante a perna para subir sem virar apenas um cinto. Mas como eu sei que toda mulher tem um pouco de maravilha e elástica juntas, não duvido que algumas até consigam embarcar. Mas se engana quem pensa que acabam aí os problemas. Não. Eles estão só começando.

Se você está em dia com a academia, com tudo no lugar e lembrou-se de depilar as pernas, fique tranqüila, tem menos um problema para enfrentar. As mulheres talvez te olhem bastante e comentem que você tem uma estria ou celulite (quem sabe as duas), mas não se deixe abalar, é tudo inveja. Os homens que vão te dar um pouco mais de trabalho, não na questão de reparar o que está ou não fora do lugar, claro.

É fato, porque Murphy é implacável, que vai entrar aquele pré-adolescente atiçado que se sentará ao seu lado e sem-querer-querendo esbarrará a mão em suas pernas no mínimo dez vezes a cada quarteirão. Mas você sempre tem a opção de mudar de lugar. Desde que não esteja sentada na janela e precise passar por cima do rapazinho, porque acredite, ele não vai se levantar para você passar.

Se não é o pré-adolescente tem o vovô tarado. Ele vai soltar um “oh lá em casa”, mas você pode fingir que não entendeu e passar da roleta como se nada tivesse acontecido. Porém não se esqueça do trocador, outra figura que vai te importunar. E não adianta, ele pode estar com uma aliança dourada do tamanho da sem-vergonhice dele, que vai soltar um “que saúde” – na melhor das hipóteses.

Passando desses primeiros obstáculos você já está com meio caminho andado – Literalmente, porque nessa altura a condução já terá andado metade do trajeto. Na verdade você deve torcer pro pré-adolescente se assentar ao seu lado, meninos assim têm menos malícia e se você olhar com cara feia pode até ser que se mude de lugar. O problema é se o irmão mais velho ou mesmo o pai desse menino resolver se instalar bem do seu ladinho. Eles vão fingir que não estão nem aí, mas no fundo vão reparar em cada parte de pele à mostra. E não, isso não é confortável.

Pois bem, estou falando da boa possibilidade de se conseguir um assento. Mas como isso hoje em dia é bem raro, já digo: ficar de pé com a minissaia é um desastre. Se forem aquelas mini mini mesmo, nem tente segurar nas barras, só se forem aquelas verticais, que você não precisa levantar o braço para alcançar. Caso contrário, pagarás calcinha, a física quântica comprova.

Resumindo, após dez minutos você já terá se arrependido de ter colocado aquela micro-peça. Provavelmente vai querer saltar do ônibus, talvez até mesmo antes do seu ponto. Aí vem outro empecilho: a descida.

Você vai se aproximar da porta e ficar analisando as possíveis estratégias para conseguir descer sem que todos que passam pela rua e os passageiros do ônibus assistam seu showzinho. Vamos lá: de lado... não dá; de frente... nem pensar; virar de costas... bom, isso eu nunca tentei nem vi tentarem.

Enfim, minha dica é: respire fundo, conte até cinco – porque se for até dez você desiste – e vá, não importa o jeito. Você vai passar por um constrangimento. Mas você é uma lady, onde já se viu ficar vermelha? Não, não. Empine o nariz – se é que me entendem – e mostre que você é uma mulher bem resolvida e sabe ter jogo de cintura – literalmente – para lidar com situações embaraçosas.

Internamente, acredite em mim, você estará se dizendo repetidas vezes: “eu nunca mais uso essa roupa, nunca mais!”, e articulando mil maneias de jogá-la fora, ou dar para aquela inimiga do coração. Mas não se preocupe, no próximo verão você já terá esquecido a promessa e colocará a minissaia para pegar o ônibus, tranquilamente.

3 comentários:

  1. Ah mas que ótimo!!!!!!!!!!!!!!
    Temos um blog aqui no Rio, chamado viação Busão!!!
    Apareça pois aceitamos posts de convidao e saiba que vc ja esta nos meus favoritos!!!!
    Ótimo blog!!!

    Estou em:
    http://deviacaobusao.blogspot.com (Viação Busão)
    http://mulheresalacarte.blogspot.com
    http://maralworld.blogspot.com

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  2. Hahaha! Teani, seu blog é sensacional! Muito bom esses textos e é um assunto tão pertinente. Curti.

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