segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Essa eu escrevi no ônibus

Redigi essa carta enquanto esperava o meu ônibus na Rua da Bahia e durante o trajeto que me trouxe até em casa:



Aos fabricantes do meu shampoo,

Venho por meio desta expressar a minha indignação – indignação só não, revolta mesmo – diante do fato que hoje descobri. Meu frasco de shampoo estava no fim, por isso fui à farmácia de costume em busca de um novo pote. Faz cinco anos – ou mais – que uso essa mesma marca, essa mesma fragrância, meu cabelo já se acostumou com os componentes. Aí quando vou ao local habitual procurar pelo meu shampoo, cadê? Não, ele não estava lá. Passei uns quinze minutos rodando na drogaria até que uma atendente bondosa me cutucou e disse um sonoro “Posso ajudar?”. Claro! Respondi na hora. “Onde eu acho o meu shampoo peloamordedeus?”.

Ela, com um ar de deboche, disse “bem aqui, como sempre”. Eu olhei mas não vi e novamente perguntei aonde estava. Foi então que ela pegou e me entregou. Tentei explicar que não era aquele o meu shampoo, mas foi em vão. Fui até o balcão e exigi que chamassem o gerente. Perguntei que palhaçada era aquela. Como eles tinham a coragem de vender uma imitação barata daquele shampoo assim?

Fiz um discurso homérico que começava com “é por isso que o Brasil não vai pra frente” e terminava com “e o Sarney continua lá”. Depois de me deixar falar igual pobre na chuva o gentil gerente me disse “minha cara, eles trocaram a embalagem e modificaram algumas fórmulas”.

Como os senhores puderam fazer isso comigo? Uma cliente fiel há tanto tempo. Sempre indiquei esse shampoo, elogiava onde quer que fosse. Quando tinha cabelos longos chegava a comprar dois potes por mês (é, ele rendia muito). E agora o que será de mim? O que será do meu cabelo? Ele era feliz com aquela fórmula.

Os senhores têm idéia de quanto tempo levei para encontrar um shampoo que se adaptasse ao meu cabelo rebelde? Como puderam assim, sem mais nem menos, sem um aviso prévio nem nada mudar de camomila+própolis natural para camomila+macadâmia. Quem disse que eu queria essa troca? Quem foi o químico petulante que afirmou que macadâmia é melhor que própolis natural para o cabelo?

Estou indignada. Os senhores deveriam ter informado aos seus usuários sobre a mudança. Eu iria às ruas protestar. Faria um abaixo assinado, uma movimentação – igual a que teve hoje na Antônio Carlos e atrasou meu dia em duas horas. E mesmo assim, se nada adiantasse, eu iria gastar todo o meu salário suado na compra dos antigos exemplares. Onde esse mundo vai parar? Nessa sociedade moderna os fabricantes sequer se preocupam com a satizfação do cliente. E aquela história de que sempre temos razão é pura balela.

Há três anos, mais ou menos, aconteceu a mesma coisa com o perfume que eu usava. Ele foi banido do mercado sem mais nem menos. Até hoje eu sofro uma crise de identidade olfativa e não consegui encontrar nenhuma nova fragrância que se adequasse às minhas vontades. Entrei no juizado de pequenas causas – o PROCON recusou - contra os fabricantes do perfume. O processo tramita até hoje e estou em vias de receber uma gorda indenização. E se quiserem encarar essa carta revoltada como uma ameaça, tudo bem. Já acionei meu advogado.

A questão é: quero propor um acordo. Nada de mau lhes acontecerá se decidirem, por livre e espontânea vontade, voltarem com a antiga fórmula . Não é preciso fazer isso com todos os produtos, me contendo apenas com o meu Camomila com Própolis Natural.

Como apelo final gostaria que os senhores pensassem em quantas outras pessoas podem estar sofrendo neste momento com o mesmo problema. Não pensem no sentido de terem dó ou sentirem pena dessas pessoas, mas imaginem o escândalo que seria se essas novas fórmulas, sem mais nem menos, começassem a causar alergias em seus usuários...

Aguardo um posicionamento,

Atenciosamente,

Teani Freitas.

Um comentário:

  1. Gostaria de ver a carta que você escreveria aos fabricantes de cosméticos quando descobrisse que os xampus todos têm a mesma fórmula cheia de soda cáustica. A única coisa que diferencia a macadâmia do própolis natural é a figurinha na embalagem. O mundo-cão da farmacologia sofre com o mesmo problema do Senado brasileiro: todos os produtos disponíveis são iguais. Todos eles fazem mal para a saúde, mas o marketing ideológico enganoso garante que eles sempre tenham um lugar na dispensa de um petista ou de um psdebista. E o Brasil caminha em passos de formiga. Por mais absurdo que pareça, se você substituir o Sarney pelo seu xampu o efeito será o mesmo: farão mal para a sua saúde e, ainda que você reclame, estarão disponíveis em todo o país, para quem mais quiser ser enganado.

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