sexta-feira, 23 de julho de 2010

POBREZA (?)

A senhora entrou no ônibus acompanhada de seu pimpolho. Um menininho espevitado que usava uma blusa azul surrada do homem aranha e carreava na mão um carrinho de brinquedo. Ela pagou a passagem. Ele passou por baixo da roleta. Sentaram-se à minha frente. A criança falava destrambelhadamente, não parava um segundo sequer. Pegava seu carrinho e passeava com ele no banco, na janela no corrimão, na cabeça da mãe. A senhora, que parecia cansada, deixava o molequinho se divertir.

Um diálogo então chamou minha atenção. O menino disse:

- Mãe, eu não gosto de andar de ônibus. Cansa, faz calor e demora muito. Por que não andamos de carro?

A mãe, sem olhar para ele respondeu:

- Porque não temos carro, meu filho.

O garoto, não satisfeito com a resposta continuou:

- Mas porque nós não temos carro?

Dessa vez a senhora olhou para ele:

- Porque não temos dinheiro, meu filho.

Ele, provavelmente, estava na idade dos “porquês”, pois não parava de indagar:

- E porque não temos dinheiro, mamãe?

- Por que sós somos pobres!

Silêncio. O menino olhou para a janela e uma lágrima caiu. Logo várias outras acompanharam a primeira. E a criança começou a chorar, e a soluçar, e a espernear, e a se contorcer. Parecia que tinham lhe dado uma surra ou tirado-lhe o bem mais precioso. A mãe já nervosa perguntou:

- O que foi, menino? Tá chorando por quê?

- Porque nós somos pobres e eu não sabia disso. Pobre, pra mim, não tem onde morar, não tem o que comer ou o que vestir. Mas a gente tem! Porque a senhora diz que somos pobres? Eu não quero ser pobre! Pobre não estuda, pobre não toma banho, não tem brinquedo, não tem carrinho. Eu vou pra aula, eu gosto da aula. Eu tomo banho, sou cheirosinho! Eu não quero ser pobre.

A senhora refletiu. Olhou para um lado e para o outro, se certificando de quem ninguém ouvira seu filho. Lançou um olhar amoroso para ele e o abraçou, dizendo:

- Você tá certo, filho. Nós não somos pobres.

Ele compreendeu bem rápido o sentido da fala de sua mãe e encerrou com uma solução prática:

- Mas eu não ligo da gente continuar andando de ônibus.

3 comentários:

  1. Excelente crônica! Quando soube que você tinha se tornado uma jornalista, fiquei doida para ler seus textos rs. Achei seu blog por acaso e estou te seguindo. Você tá de parabéns Teani! Realmente, emocionou! =)

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